- QUESTÕES SOBRE A OBEDIÊNCIA
Pede Deus obediência cega? Somos instrumentos? Até que ponto no reavivamento e reforma, exerce o cristão, arbítrio livre em relação à obediência?
Um dos testemunhos do reavivamento, consiste no uso da palavra com o próximo. Não aparece por acaso e, é resultado, ou fruto da oração, meditação da palavra e partilha com outros crentes, para levar o evangelho de Cristo aos outros. Onde é que fica a obediência, no meio de todo este relacionamento? Será a obediência, o seguir a palavra de um pastor, ou de outro crente, ou de um padre, ou de uma instituição, ou até de uma multidão em êxtase efusiva? Passa o cristão um cheque em branco, ou assina de cruz, em relação à vida que Deus lhe deu?
A obediência é uma das características dos actos humanos, em que se descreve a sua origem, ou fonte e, principalmente a sua conformidade, ou não. Ou seja, o reavivamento e reforma já foram referidos, como o relacionamento com Deus em momentos de descontinuidade, em que o cristão deixa de ser contínuo nas respostas aos convites e, apelos do Espírito. No reavivamento, as dádivas, ou dons, interagem individualmente no interior com o ser, as liberdades, interesses, fé, pensamentos, conhecimento, valores e, emoções, que a nível externo resultam em acções, a que se dá o nome de reforma. No entanto, há perspectivas, em que parecem ter um certo estereótipo e, discriminação (talvez com o receio disparatado de serem tomados como reformistas), para com a palavra reforma e, usam outras palavras tais como testemunho, obediência, entre muitas outras. Na melhor das hipóteses, poder-se-á adiantar, que os vários autores ao referirem-se à reforma, com estes significantes, pode ser que talvez estejam a evidenciar em relação à mesma, algumas das suas características e significados, como por exemplo as suas fontes, o cumprimento, a conformidade, a concordância, a intensidade do relacionamento e, a semelhança das obras humanas para com as de Deus. Seja como for, a obediência caracteriza as acções humanas, como resultado do relacionamento com Deus, no sentido do cumprimento para com as suas leis, ou vontade, ou como resposta ao seu carácter, recursos, dádivas, bênçãos e, incessantes poderes criadores da Divindade Triúna. Jesus Cristo em S. Mateus 5:17-18, enfatizou a sua obediência ao cumprimento dos mandamentos e, noutras passagens da Bíblia o Filho do Homem destacou que obedecia à vontade do Pai. A questão pertinente, está em saber quais eram as diferenças, entre a obediência de Jesus Cristo e, a dos fariseus, que também diziam obedecer a Deus Pai e, aos mandamentos.
Vai-se focar de seguida os vários tipos de obediência, durante a reforma, que servem como testemunho, ou são considerados como o fruto do reavivamento, mas que ao mesmo tempo, são intensificadores do reavivamento. Assim abordar-se-á de seguida, a obediência que:
- Se relaciona com o interesse nas transformações, resultantes do sacrifício e ressurreição de Cristo.
- Se assemelha à morte do salvador.
- Resulta das surpresas inesperadas, provenientes dos contactos de Cristo, com os pecadores.
- Tem como fonte somente a Cristo.
- Tem como exemplo o próprio Salvador, Jesus Cristo.
- O INTERESSE DA OBEDIÊNCIA PROVINDA DAS VIDAS TRANSFORMADAS PELO SACRIFÍCIO E RESSURREIÇÃO DE CRISTO
O reavivamento resulta em vidas transformadas pelo Espírito Santo, à imagem e semelhança de Cristo. Não chega o eticamente correcto, porque o reavivamento vai mais além, pois o crente reflecte a Cristo, com quem começou a viver na liberdade, na fé e, nos actos. Duas características aparecem de forma distinta na transformação: a fé e a obediência. Mas será a obediência cega? Ou será, que o crente tem uma fé em qualquer tipo de orientação eclesiástica, ou a crença que vai atrás de qualquer tipo de marketing religioso?
Veja-se o caso de Pedro, quando declara o seguinte:
- “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem” (Act 5:32).
- “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro” (Act 5:30).
- “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (Act 5:29).
Pedro nestas três passagens, associa a sua liberdade de escolha com o seu interesse, à obediência, ou reforma na sua vida. Pedro nunca escondeu os seus interesses, tanto pelo materialismo prático da vida, que aparecia no povo, que precisava de comer e pagar impostos, como pela convivência com aqueles que tivessem o verdadeiro poder. Jesus Cristo, vai preservar neste apóstolo, todos estes aspectos, mas direcciona-os para os verdadeiros autores do poder e, da criação. Para Pedro a obediência a Deus, resultava dos seguintes aspectos fundamentais:
- Deus é poder e, vida, porque ressuscitou a Cristo à sua frente, após o seu sacrifício em prol da humanidade.
- Deus partilhava o seu ser através do seu Espírito, com o qual ele vivia no dia a dia.
- Entre o homem e Deus, Pedro já vira o suficiente para comparar e, escolher em quem acreditar e, obedecer.
Em suma, Pedro pode ser visto como o crente que aceita ser mandado, mas por alguém que dê liberdade de escolha, tenha poder, saber e, principalmente que o mandante, conheça por experiência e vivência o outro lado e, que proporcione ao mandado, capacidade para se transformar à sua imagem e, semelhança, com co-participação progressiva nas criações eternas.
- A OBEDIÊNCIA EM ESTEVÃO QUE SE ASSEMELHOU À MORTE DE CRISTO
Até que ponto, é que a fé e a obediência, deverão ir, considerando as situações em que o crente está? Justifica-se o martírio, ou não se sente essa hora difícil? Onde é que a Igreja, como conjunto de crentes fiéis a Deus, está nesse momento? Não será que os líderes, tal como acontece nas organizações actuais, deixam as cabeças dos elos mais fracos e, dos que são considerados hierarquicamente inferiores rolarem, à custa do seu bem-estar? O que tem o reavivamento a ver com esses momentos? Nada é pior, do que ver membros a morrerem em martírio e, os líderes sempre a salvo, ao contrário do que aconteceu com Cristo! Será que a história da Igreja, de hoje em dia, é diferente da dos primeiros cristãos e, dos que viveram na Idade negra Medieval?
A reforma dos actos, proveniente do reavivamento com base em martírios, originam sempre noutros um testemunho, que os leva para mais junto de Cristo. Isto significa, que o dar a vida com Cristo, é proporcional à oportunidade e, principalmente à necessidade do próximo, que se encontra completamente empedernido. Nestas ocasiões, só a visão do próprio sacrifício de Cristo, em prol do outro e, de si, é que o transforma. É errado, tentar fazer dos crentes carne para canhão, quando está em questão, não o seu falecimento, mas principalmente a morte expiatória de Jesus em prol dos pecadores, que quiserem aceita-la. Se os pecadores, não aceitam este último testemunho, então, fazem a sua definitiva escolha em juízo, de morrerem para se separarem de Deus Triúno.
Estêvão era reconhecido como cristão e, portanto, não estava sózinho. Em primeiro, a hora de aceitação para o povo de Israel estava a soar e, com a rejeição de Estêvão, o povo judeu deu o seu último passo, para fora da santa aliança de Deus. Em segundo, o reavivamento, que aconteceu tem a ver, com o facto que os cristãos compreenderam, que a partir dali, o evangelho era uma obra global, que também estava fora das fronteiras de Israel. O martírio de Estêvão, foi um acto de continuidade no seu relacionamento com Cristo, mas para a Igreja redundou em reavivamento e reforma, na difusão do evangelho, por se encontrar em descontinuidade em relação à difusão do Evangelho no mundo todo. Estêvão todos os dias morria e ressuscitava como nova criatura e, perante esta prova, ultrapassou-a com a morte de Cristo e, no futuro, com a ressurreição na segunda vinda do Messias.
Até ali, a Igreja cristã ainda estava confusa, em relação ao seu relacionamento com a nação de Israel. No entanto, a questão pertinente tem a ver com o seguinte: até que ponto houve obediência e, em que sentido? Aqui existe muita confusão e, principalmente existe muito a cultura, de que a obediência de Deus, é uma autêntica venda nos olhos, em que o indivíduo, é um mero instrumento nas mãos da Divindade. Será assim?
Há um princípio importante, que é este: o que aconteceu a Estêvão, já tinha acontecido a Cristo, por todos os que aceitaram este caminho de excelência. Mas não será, que em Estêvão se tem um mero acto de fanatismo? De maneira alguma, ou não fora um dos maiores perseguidores (Saulo de Tarso), a se converter a Jesus. O fanatismo estava do outro lado da barricada e, este acto despertou noutros indivíduos (do fanatismo religioso que matam), a transformação em Jesus Cristo, em que os seus crentes dão a vida. Então, o que Estêvão fez, fê-lo com Cristo e, não em obediência cega. Ele viu e, escolheu estar com Cristo e, nunca com a morte.
- AS SURPRESAS DA FÉ E OBEDIÊNCIA NO REAVIVAMENTO
Será que a Igreja é só daqueles, que são reconhecidos como obedientes? Ou melhor, quem é a Igreja de Deus? Porquê, que cada vez mais, os cristãos são cada vez mais independentes das instituições cristãs? Estas e, outras perguntas são cada vez mais respondidas, com surpreendentes revelações, que cada vez mais fazem reavivar e, reformar a Igreja.
Na altura, os crentes só julgavam que os candidatos a cristãos tinham referencias, tais como serem judeus e, serem bem comportados. Quando viram Saulo entrar pela porta da Igreja, todo o gênero de preconceito, teve de ser abandonado e, de novo o grande princípio de Cristo, de vir buscar os pecadores e, não os justos, teve de ser equacionado e, conjugado como reavivamento, nos testemunhos de todos. O pecado que se contempla, mesmo quando não praticado, tem uma carga potencial de ser aceite por qualquer um (e com o tempo, assim acontecerá), até ao momento, em que se decide soluciona-lo pelo testemunho da fé de Cristo e, isso traz consigo um choque, em que o conflito é uma constante, até encontrar a verdadeira paz.
Todo o cristão questiona o seguinte: como será possível levar o evangelho a todos? O reavivamento, passa essencialmente em contemplar, o caminho de conversões milagrosas, que Deus fará com e, para o despertamento de uma Igreja morna e, completamente fechada em doutrinas (mesmo que verdadeiras) e preconceitos. Até que ponto, a fé e, a obediência tem a ver com isto? A obediência e fé só são de Cristo, quando há da sua parte a capacidade transformadora do Salvador em cada um, em abranger a transformação da diversidade global dos seres humanos, pelo Espírito Santo, mesmo às vezes, os menos promissores. Ter fé e obedecer com Cristo, é possibilitar no outro, a liberdade de escolher essa mesma obediência e fé. Assim, a obediência não é somente um facto de multidões de igreja, conformistas com ditames de leis (mesmo que vindos de púlpitos muito bem adornados e, cheios de belos discursos politicamente correctos), mas é acima de tudo, um relacionamento específico de liberdade em cada um, com o Salvador Jesus Cristo, na sua vida, morte e ressurreição, dirigido aos outros e, ao universo. Só desta forma, se cumpre a liberdade da lei de Deus, com o Espírito Santo. Enquanto estes relacionamentos não acontecem, cada vez mais a Igreja verá, alguns dos seus próprios membros a não se unirem à massa de conformidade morna e, indiferente. Desta forma, a obediência torna-se na cristalização blindada da lei e, no status quo de alguns grupos da Igreja.
- O APARECIMENTO DA OBEDIÊNCIA E DA FÉ
A fé e a obediência, não aparecem por acaso e, tem origem no Espírito Santo, que convence o ser humano do pecado, da justiça (ou transformação em Cristo) e, do juízo, perante a vida, morte, ressurreição, intercessão e, eternidade do Salvador.
O que terá assustado o rei Agripa, para que não tenha aceite a Cristo, no caminho da fé e, da obediência? Simplesmente o rei Agripa, confundiu a obediência do mundo, a que se dá o nome de escravatura, ou de domínio, com a obediência cristã, que tem na liberdade humana em Cristo, o grande fundamento. As suas palavras (“Por pouco me persuades a me fazer cristão” (Act. 26:28)), denotam que não distinguia o Espírito Santo, ou o próprio Deus, que o estava chamando. Para ele, os acontecimentos eram sempre políticos, ou seja, tinham origem no homem, para dominar outros homens. Para ele, aquele discurso, acima de tudo era um discurso humano de Paulo, para convencer o rei a aceitar outra personagem mística com o nome de Jesus, visto como um deus, igual com os que já estava habituado a lidar. À resposta da sua fé, perante a liberdade em Cristo, Agripa, não aceitou a visão que Deus lhe estava a dar e, manteve-se aparentemente fiel a si próprio, no seu juízo, escolhendo-se a si, em vez da própria Divindade Triúna em harmonia consigo no Universo. A obediência para Agripa, seria um fardo de deveres, que não o beneficiaria perante os outros. A obediência, não foi vista como um conjunto de deveres e direitos, a serem constantemente criados e aprofundados, na companhia com Cristo, participando numa comunidade espiritual de crentes, em união fraterna de eternidade em eternidade, tendo como Pai a Deus.
- A OBEDIÊNCIA DE CRISTO NO ESPÍRITO E NO PAI
O Espírito Santo actuou e, actua em todos os momentos de Jesus, com vista á Salvação e à eternidade. Ele foi “gerado [pelo] Espírito Santo” em Seu nascimento e “ungido com o Espírito Santo e com poder” no baptismo em que iniciou o seu ministério (ver Mat. 1:20; 3:16, 17; Act. 10:34-38). Ao longo da vida de Cristo, Ele foi obediente à vontade do Pai (João 8:29; Heb. 10:7). Em Fil. 2:8 é referido que Cristo “a Si mesmo Se esvaziou” de Seus privilégios e prerrogativas como igual a Deus e Se tornou “servo”.
Jesus foi um servo da vontade do Pai. Ele “a Si mesmo Se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fil. 2:8). No entanto, há aspectos que importa ponderar, sobre as perspectivas, que no mundo eclesiástico interpretam a seu favor estes versículos, com o sentido nefasto de às vezes, tornar os crentes, filhos de igreja e, não filhos de Deus.
Em termos muito simples, a obediência é vista nas religiões, na maior parte das vezes, como uma condição, em que o ser humano está em baixo, seguindo cegamente as ordens de intermediários de Deus e, por lá se mantém. Esta perspectiva, devasta completamente, o grande princípio da salvação, ou da criação de Cristo, que é o de tornar o homem, semelhante e, à imagem de Deus, através da revelação directa ao homem por Cristo e, pelo Espírito Santo.
O conceito de obediência, tem a ver com um momento na vida do homem, em que não podendo perspectivar, nem a causa e o futuro eterno de Deus, tem de aceitar o que minimamente conhece em termos de Divindade. Isto significa, que se aceita as promessas de Deus, a sua vontade e carácter, sem que se vislumbre na totalidade as causas e efeitos. Ou seja, quando Cristo aceitou vir, como ser humano, para morrer pelo homem, não tinha a noção durante a encarnação, que iria ressuscitar, ou aparecer de novo, perante a escuridão do pecado, que carregou pelo homem (daí o seu grito “Pai porque me abandonaste!”), mas no entanto obedeceu, cumprindo a vontade Divina, com base na revelação das escrituras, que conhecia de anteriores e, futuras experiências das criações constantes de Deus e, a partir das profecias, que pela palavra atravessam, ou levam à eternidade. Portanto, a obediência, é um momento de relação com Deus, que não se vai manter somente nessa perspectiva de conformidade sem mudança, porque o ser humano, vai-se libertando desse tipo de relacionamento, para conhecer e, viver cada vez mais intimamente, com o Deus Triúno. Cristo mesmo obedecendo da forma como aceitou ser, no entanto, ao longo do tempo, foi ultrapassando essa situação, para voltar à sua Divindade em conjunto com a sua humanidade. A pergunta impõe-se: onde ficou a obediência de Cristo neste momento, ou após a sua ressurreição?
No reavivamento e reforma, é naturalmente espiritual, que muitos dos relacionamentos, se façam na obediência, mas o objectivo é o de cada vez mais unir, o ser humano a Jesus Cristo, em que a liberdade esteja constantemente a escolher o seu caminho com o salvador e, com base nas eternas criações de Deus Triúno. Assim a obediência, não será nunca uma servidão, mas uma progressão e, reciprocidade constante na união dos seres Divino e humano, com outros estados (como a santificação, a glorificação) de relacionamento em Cristo (no amor, na verdade e na vida), para uma escolha definitiva (que será ajuizada com base na lei expressa em todos os actos de Cristo) de liberdades incessantes, nos gloriosos caminhos de Deus, que são criados infinitamente de eternidade em eternidade. De acordo com a passagem em II Cor 10:4, 5 (“As armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”), poder-se-á adiantar, que o reavivamento, que tem por base a oração e, a palavra da verdade, do amor e, da vida do Messias, conduz o cristão pelo conhecimento, à obediência na reforma, em que se une na misericórdia (que não se alcança com a racionalidade), com o seu Salvador no aperfeiçoamento da sua dinâmica semelhança eterna.